A Igreja é
Missionária
Publicado em 28 de maio de
2013
A Igreja é
essencialmente missionária. Cristo a instituiu para evangelizar:
“Ide,
portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos […].” (Mt 28,
19-20).
Se a Igreja deixar de evangelizar ela deixa de ser a Igreja, como Cristo
a quis. Explica bem isto a Ad Gentes:
“A Igreja
peregrina é por sua natureza missionária. Pois ela se origina da missão do
Filho e da missão do Espírito Santo, segundo o desígnio de Deus Pai.” (AG, 2).
E o fim
último da missão da Igreja – explica o Catecismo – “não é outro senão fazer os
homens participarem da comunhão que existe entre o Pai e o Filho no seu
Espírito de amor” (CIC, §850).
O Pai enviou
o Filho ao mundo para salvá-lo, e o Filho enviou a Igreja para continuar a Sua
missão. Várias vezes Jesus deixou claro isto:
“Como o Pai
me enviou assim também eu vos envio.” (Jo 20, 21).
“Como tu me
enviaste ao mundo também eu os enviei ao mundo.” (Jo 17, 17).
“Quem vos
ouve a Mim ouve; quem vos rejeita a Mim rejeita, e quem Me rejeita, rejeita
Aquele que me enviou”. (Lc 10, 16).
“Sereis
minhas testemunhas […].” (At 1, 8).
“Em verdade,
em verdade, eu vos digo: quem recebe aquele que eu enviar, a Mim recebe, e quem
Me recebe, recebe Aquele que me enviou.” (Jo 13, 20)
“Ide por
todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura.” (Mc 16, 15).
No final do Sínodo dos Bispos de 1974, em Roma, sobre a Evangelização,
foi dito:
“Nós
queremos confirmar, uma vez mais ainda, que a tarefa de evangelizar todos os
homens constitui a missão essencial da Igreja.” (LR, 27/10/74, p. 6).
Ao terminar
esse Sínodo, que foi um marco para a Igreja, o Papa Paulo VI escreveu a célebre
Exortação Apostólica A Evangelização no Mundo Contemporâneo (Evangelii
Nuntiandi), que o Papa João Paulo II chama de Carta Magna da Evangelização, e a
indica como referência fundamental para a Nova Evangelização a que ele está
conclamando a Igreja em vista da chegada do terceiro milênio.
Nesta Carta o Papa Paulo VI diz:
“Evangelizar,
constitui de fato, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda
identidade. Ela existe para evangelizar, ou seja, para pregar e ensinar, ser o
canal do dom da graça, reconciliar os pecadores com Deus e perpetuar o
sacrifício de Cristo na Santa Missa, que é o memorial da sua Morte e
Ressurreição.” (EN, 14).
É
imprescindível que cada pessoa compromissada com a evangelização estude essa
Carta.
Talvez ninguém melhor do que São Paulo tenha expressado a missão do
cristão:
“Anunciar o
Evangelho não é glória para mim, é uma obrigação que se me impõe. Ai de mim, se
eu não anunciar o Evangelho! Se o fizesse de minha iniciativa, mereceria
recompensa. Se o faço independentemente de minha vontade, é uma missão que me
foi imposta.” (1Cor 9, 16-17).
É interessante e importante notar como no Evangelho Jesus chama os
discípulos a evangelizar:
“Não fostes
vós que me escolhestes, mas eu vos escolhi e vos constituí para que vades
e produzais frutos […].” (Jo 15, 16).
“Vinde após
Mim e vos farei pescadores de homens.” (Mt 4, 19).
São Paulo
ensina que a “fé vem pela pregação”, daí a sua importância, já que a fé é
condição para a salvação.
“Portanto,
se com tua boca confessares que Jesus é o Senhor, e se em teu coração creres
que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. É crendo de coração que
se obtém a justiça, e é professando com palavras que se chega à salvação.” (Rm
10, 9-20).
Em seguida o Apóstolo mostra toda a importância da evangelização:
“Porém, como
invocarão aquele em quem não têm fé? E como crerão naquele de quem não ouviram
falar, se não houver quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados como
está escrito: Quão formosos são os pés daqueles que anunciam a boa nova.” (Is
52, 7), (Rm 10, 14-15).
Em resumo, diz o Apóstolo:
“Logo, a fé
provém da pregação, e a pregação se exerce em razão da palavra de Cristo.” (v.
17).
O mesmo São Paulo insistia com os seus companheiros de evangelização,
Timóteo e Tito, sobre isto:
“Eu te
conjuro […] prega a palavra, insiste oportuna e importunamente, repreende, ameaça,
exorta com toda paciência e empenho de instruir. Porque virá tempo em que os
homens já não suportarão a sã doutrina da salvação.” (2Tm 4, 1s).
Por tudo o que foi dito até aqui, entendemos o que o Código de Direito
Canônico afirma:
“Todos os
fiéis têm o direito e o dever de trabalhar, a fim de que o anúncio divino da
salvação chegue sempre mais a todos os homens de todos os tempos e de todo o
mundo.” (CDC, cân. 211).
Todos, sem
exceção, somos chamados a evangelizar. Hoje, mais do que nunca o Papa convoca a
todos a uma Nova Evangelização. Aos bispos do Brasil, que estiveram em Roma por
ocasião da visita ad limina apostolorum (ao túmulo dos Apóstolos), em setembro
de 1995, o Papa João Paulo II disse:
“Caríssimos
irmãos, não basta chamar, convocar e esperar que as pessoas venham. Como diz
outro lema da ação pastoral de uma das vossas Dioceses, deveis ser uma igreja
que vai ao encontro do Povo! Deveis ser uma igreja que procure as pessoas, que
as convide não somente no chamado geral dos meios de comunicação, mas no
convite pessoal, de casa em casa, de rua em rua, num trabalho permanente,
respeitoso, mas presente em todos os lugares e ambientes.”
Essa missão
se torna urgente, pois, como o Papa disse na Redemptoris Missio, a expansão das
seitas “constitui uma ameaça para a Igreja Católica e para todas as Comunidades
Eclesiais com quem ela mantém diálogo” (RM, 50).
E o Papa pergunta aos bispos do Brasil, diante do avanço das seitas e
dos movimentos pseudorreligiosos:
“Não estaria
havendo uma certa acomodação deixando de ir em busca das ovelhas que estão
afastadas? Ao contrário da parábola evangélica, não é uma e outra que está
tresmalhada (fugida), mas é uma parte do rebanho.” (RM, 50).
Esta é a
ordem: uma “nova evangelização”, “nova em seu ardor, seus métodos e sua
expressão”.
É preciso “rever o processo evangelizador” pede o Papa, cheio de
“lacunas” na celebração litúrgica, na comunicação da Palavra, no acolhimento
das pessoas, na celebração dos sacramentos. E disse aos bispos:
“Enfim, como
não acentuar uma certa timidez e inércia no processo de evangelização do povo?”
Segundo o
Papa, é preciso também no Brasil, valorizar “os sinais exteriores da fé” que o
povo tanto gosta: um sino que bate, a música sagrada, a arte religiosa, a veste
dos sacerdotes, as procissões, etc., tudo deve ser valorizado.
Mas se por um lado é urgente evangelizar, por outro lado é essencial o
conteúdo da evangelização, como afirmou Paulo VI:
“A
evangelização há de conter também sempre – ao mesmo tempo como base, centro e
ápice do seu dinamismo – uma proclamação clara que em Jesus Cristo, Filho de
Deus feito homem, morto e ressuscitado, a salvação é oferecida a todos os
homens, como dom da graça e da misericórdia do mesmo Deus.” (EN, 27).
Não se pode deixar de falar da vida eterna:
“Por conseguinte,
a evangelização não pode deixar de comportar o anúncio profético do além,
vocação profunda e definitiva do homem […].” (EN, 28).
Não se pode trair a mensagem de Cristo, deixando de ser fiel à sua
doutrina:
“Pregar, não
as suas próprias pessoas ou as suas ideias pessoais, mas sim um Evangelho do
qual nem eles [os evangelizadores] nem ela [a Igreja] são senhores e
proprietários absolutos, para dele disporem a seu bel-prazer, mas de que são
ministros para o transmitir com a máxima fidelidade.” (EN, 15).
Ninguém pode
ensinar o que quer, mas deve ensinar o que a Igreja manda. Todos os que
evangelizam, leigos ou religiosos, o fazem em nome da Igreja, como seus
delegados, que devem ser-lhe fiéis. Infelizmente vivemos uma onda de
constatações ao Magistério da Igreja, dentro da própria Igreja.
Paulo VI pergunta-nos:
“E como se
poderia querer amar Cristo sem amar a Igreja, uma vez que o mais belo
testemunho dado de Cristo é o que São Paulo exarou nestes termos: ‘Ele amou a
Igreja e entregou-se a si mesmo por ela?’” (Ef 5,25).
Na sua memorável Exortação o Papa Paulo VI chama a atenção do perigo de
se cair na tentação da falsa evangelização:
“Tentação de
reduzir a sua missão [da Igreja] às dimensões de um projeto simplesmente
temporal; os seus objetivos a uma visão antropocêntrica [centrada no homem]; a
salvação de que ela é mensageira e sacramento, a um bem-estar material; a sua
atividade – esquecendo-se todas as preocupações espirituais e religiosas – a
iniciativas de ordem política e social” (EN, 32).
Resumindo a essência da evangelização, Paulo VI diz:
“Não haverá
nunca evangelização verdadeira se o nome, a doutrina, a vida, as promessas, o
Reino, o mistério de Jesus de Nazaré, Filho de Deus, não forem anunciados. A história
da Igreja, a partir da pregação de Pedro na manhã do Pentecostes, amalgama-se e
confunde-se com a história de tal anúncio.” (EN, 22).
Esta era a pregação de Pedro e dos Apóstolos:
“Em nenhum
outro há salvação, porque debaixo do céu nenhum outro nome foi dado aos homens,
pelo qual devemos ser salvos.” (At 4, 12).
Toda
evangelização deve ser Cristocêntrica para ser autêntica. E ninguém está
dispensado de exercê-la.
Todos na Igreja são importantes na missão de evangelizar. São Paulo
expressa isso bem quando diz aos Coríntios:
“O olho não
pode dizer à mão: ‘Eu não preciso de você’; nem a cabeça aos pés: ‘Não
necessito de vocês.’”
“Antes, pelo
contrário, os membros do corpo que parecem os mais fracos, são os mais
necessários.” (1Cor 12, 21-22).
De que adiantaria
a grande artéria aorta e as grandes veias cavas que levam e trazem o sangue ao
coração, se não houvesse as pequenas veias e artérias e os vasos capilares que
irrigam de sangue todas as células levando-lhes alimento e oxigênio?
De que
adiantaria todo o indispensável trabalho do Papa e dos Bispos, se não houvesse
os pequenos missionários nos lares, nas escolas, nas fábricas, nas igrejas e
nas ruas?
A
evangelização é o fruto de toda essa grande “Árvore” que é o Corpo de Cristo.
Para que o fruto doce seja produzido nas extremidades dos seus ramos, é
necessário o trabalho incessante das raízes, do tronco, dos galhos, do ramo e
da flor. Se um deles falhar… Adeus o fruto.
Assim é a
evangelização. Por isso Cristo tanto insistiu na necessidade da unidade gerada
pelo amor fraterno.
Sem unidade,
adeus evangelização! É por isso que o demônio tem como grande arma desunir a
Igreja – já que não pode vencê-la – através das heresias, cismas,
desobediências ao Magistério, rixas, rivalidades, partidos, etc.
Prof. Felipe Aquino